Em Busca da Joia da Verdade

Prefácio

Há muito tempo atrás, nos primórdios da humanidade, todos os sábios, filósofos e místicos, receberam um chamado. Não se sabe se foi algo divino, se foi uma observação no céu, posição das estrelas, das constelações, intuição, observação dos acontecimentos passados, presentes e futuro, mas de alguma forma, os que conseguiram decifrar a mensagem, sabiam onde deveriam ir. O lugar, era algo no meio do caminho entre dois continentes, entre o ocidente e o oriente, em alguma parte do Oceano Índico. Sabe-se também que esse ponto de encontro, é um ponto exato entre o continente ocidental a esquerda, a ilha do continente oriental a direita, uma ilha pouco habitada abaixo e um mar que provavelmente chega a um continente acima, provavelmente na divisa e nos países em guerra entre os dois continentes. Hoje não existe mais nada ali, mas algumas versões da lenda contam que ali havia uma ilha, que ninguém sabe explicar como e porque não existe mais, e também diziam que este foi o único acesso a essa ilha de que se tem registro na história, se é que podemos chamar as estórias contadas de boca a boca de história, muito menos de registro histórico. A outra versão, que faz um pouco mais de sentido, mas não muito mais, diz que esses sábios se encontraram em centenas de embarcações e que ancoraram umas ao lado das outras, e que trafegavam livremente entre as embarcações para conversar com todos. Ali, naquele pequeno arquipélago de barcos, não havia fronteiras, não havia nações, todos estavam ali por um mesmo propósito, e eles sabiam muito bem qual era.

Depois de muito trafegarem e de terem conhecido todas as pessoas do lugar, elegeram um mensageiro, o que eles sabiam ser o mais confiável, que por coincidência ou não falava a maioria das línguas, o que era importante, pois tinha gente dos mais diversos lugares, mas não mais importante do que ser confiável, essa qualidade era a mais importante de todas, pois o que iriam fazer ali dependia de que a mensagem de cada sábio fosse seguida à risca, sem nenhuma alteração e algumas versões da lenda contam que tinha gente até mesmo do novo mundo, que ainda nem tinha sido invadido pelos colonizadores.

Esse evento durou dias, talvez semanas ou meses, ninguém sabe quanto tempo esses sábios ficaram ali para conseguirem fazer algo tão grandioso, verdadeiro, filosófico e místico como eles fizeram. A criação da Joia da Verdade. Era algo fabuloso, era algo incrível, espetacular, complexo, simples, paradoxal. Verdades que se encaravam, se refletiam e se entrelaçavam, sem que uma passasse por cima da outra. Verdades simples o suficiente para que não pudesse ser interpretada de outra forma. A verdade mais pura que aquele sábio, filósofo ou místico, carregava de sua cultura. Verdades, apenas verdades, sem ódio, sem mas, sem porque, sem mais, sem menos, sem amor exacerbado, apenas uma verdade simples e pura, livre de ego, de paixões, de ideologias e de vieses religiosos ou culturais. É verdade que a sua grande maioria representava um povo, uma cultura, uma ideologia, uma religião, mas em sua essência, em sua pureza, mesmo com todas as suas complexidades. Dizem que os sábios discutiram muito no começo, mas entenderam que suas diferenças vinham do ego e das paixões, por isso não conseguiam entender e respeitar a verdade do outro. Quando compreenderam esse problema, criaram a joia mais fabulosa de todas.

A joia foi criada de maneira que a verdade de cada sábio era representada por um espelho místico, um pequeno fragmento da joia, esse espelho deveria estar olhando para todos os outros espelhos, e todos os outros espelhos deveria conseguir olhar para esse espelho, de forma que todas as verdades conseguissem se encarar e ser encaradas ao mesmo tempo. Algumas versões da lenda falam que se um fragmento da verdade, o pedacinho de espelho místico não contivesse uma verdade simples e pura, ele não resistia e se quebrava. Como eles fizeram isso, se por magia ou qualquer outra forma, não se sabe.

No fim, parece que o resultado foi satisfatório, na verdade foi algo magnífico. Eles criaram uma pequena esfera de vidro, uma esfera perfeita, mesmo sendo criada a partir de vários fragmentos e mesmo com a condição de que todos esses fragmentos precisam se encarar e ser encarados ao mesmo tempo. Essa pequena bola de vidro foi passando de mão em mão, e aconteceu algo que nem mesmo eles esperavam, nem mesmo os místicos. A joia ia mudando de cor conforme passava de uma mão para outra, de um dono para outro, e então os sábios chegaram à conclusão que ela era capaz de refletir a aura e a verdade da pessoa que a possuísse, e entenderam o porquê, afinal, ninguém pode ser o dono da verdade sem acrescentar sua própria verdade, ou em outras palavras, todos aqueles que julgam, também serão julgados.

Os sábios criaram então a Joia da Verdade, mas não podiam usa-la, pois, refletir a sua própria verdade não era o propósito da joia. A joia deveria ser usada por alguém que conseguisse, de alguma forma, e eles não sabiam como, fazer com que ela permanecesse transparente, por uma pessoa que aceitasse todas essas verdades sem impor a sua. Eles acreditavam que se ali entre eles não havia essa pessoa, provavelmente não haveria essa pessoa em nenhum outro lugar do mundo. Muito se discutiu sobre o que fazer com a joia, uns queriam destruí-la, outros queriam apenas arremessa-la ao mar para que o destino se encarregasse de faze-la ser encontrada por alguém digno, outros achavam que entre seu povo poderia ter alguém digno de usar a pedra e queriam leva-la consigo.

A discussão durou dias, e quanto mais o tempo passava os sábios se tornavam menos sábios, tudo aquilo que eles criaram, tudo aquilo que aquela joia representava não valia mais de nada. Cada um queria impor sua verdade sobre o que fazer com a pedra, uma verdade não refletia mais a outra e tinha vergonha de ser encarada pelas demais, pois essas verdades eram carregadas de ego e sentimentos.

Não se sabe exatamente quantos dias durou essa discussão e nem se eles tivessem decidido o que fazer com a joia mais rápido eles teriam chance de se salvar. Tudo que a lenda conta é que uma forte tempestade ocorreu em alto mar, devastando todas as centenas de embarcações e levando com ela a Joia da Verdade, quando quem estava com ela gritou: “Levarei a verdade comigo, e nem em mil anos alguém a encontrará”.

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